quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Centre Pompidou Novos Media 1965-2003- no Museu do Chiado

É sempre bom ir ao Museu do Chiado em Lisboa, melhor agora com a exposição do Centre Pompidou Novos Media , onde os artistas com o uso do vídeo, exploram possibilidades estéticas como instrumento crítico das imagens.
Encontrei vários bonecos de Tony Oursler na exposição, que suspensos em tetos, vãos de escadas, e espaços mortos do circuito, compõem com as luzes monitores e projeções a idéia do inusitado.

Estes trabalhos, vindos do Centre Pompidou de Paris, que tem como proposta serem interativos, são um estimulo a criatividade. Uma viagem no tempo, ao começo da descoberta do vídeo como material mais barato e acessível que o filme e suas possibilidades no campo da experimentação.

A primeira instalação que entrei foi: Present Continuous Past, de Dan Graham. Além de lidar com minha imagem gravada, me via também refletida nos espelhos e no reflexo do monitor a emitir o que já havia sido registrado. Uma forte sensação de alteração dos conceitos espaciais e temporais através das imagens.

Na secção da expo- sição: "Para uma Televisão imagi- nária”, quero citar: Moon is the Oldest TV- de 1965, por ser o trabalho mais antigo e pelo romantismo da idéia, Nam aplicou as interferências magnéticas nos tubos catódicos monitores,interrompendo os sinais para criar na tela da TV, silhouetas que representam as fases da lua.

Gostei das críticas aos conteúdos televisivos de Chris Marker ou Matthieu Laurette; da "televisão ao contrário" de Bill Viola e Valie Export; das relações com as artes visuais exploradas por Vito Acconci.
Gostei ainda, das pesquisas espaciais de Martial Raysse, Bruce Nauman e Global Groove, de Nam June Paik, e de Chris Marker, Immemory, lidando com a memória das imagens.

Quero salientar o trabalho de Pierre Huyghe, que em 1999 produziu The Third Memory, obra em três partes que recupera os recortes de imprensa sobre um assalto a um banco (em 1972), a história inspirou o filme: Um Dia de Cão, com Al Pacino e a memória do assaltante duas décadas depois. E não posso esquecer dos trabalhos que associamos de imediato ao cinema (Jean Luc-Godard e Chris Marker).



Meu lado musical fez eu ter um carinho especial com: Hors Champs, de Stan Douglas , quarteto em concerto de free-jazz com a composição de Albert Ayler- Spirits Rejoice, com a direção integral da rodagem do concerto por Stan Douglas.


Cada vez que revejo, o Arena Quad I and II, de Samuel Beckett, gosto mais. Quatro figuras sem identidade,diferenciados apenas pela cor das suas roupas, encenam uma geometria de cruzamentos de posições sobre um quadrado. Seguem uma regra de circulação, onde a obra instaura um ritmo alucinatório de espectativa que se esgota em cada passo, sendo regido pelas batidas sonoras dos pés. A estrutura, possui dois andamentos: um rápido e a cores, outro lento e a preto e branco, ambos impondo um sentido do absurdo, tornando a ação uma redundância em si mesma. A cadência de todos os movimentos e a imposição a um esquema tão marcado pela quadratura, esgotam a ação e o papel das figuras, provocando uma abstração espacial cognitiva e sensorial.


Em Feature Film,de Douglas Fordon,o artista toma como ponto de partida a banda sonora do filme vertigo, de Alfredo Hitchcock, composta por Bernard Herrmann. “Não como uma apropriação, como é frequentemente em muito dos seus trabalhos, mas na realização de um filme sobre a condução dessa mesma banda sonora pelo maestro James Conlon com a orquestra da Ópera Nacional de Paris.
A obra consiste num longo bailado do rosto e das mãos do maestro, na condução da banda sonora original, ao longo de 128 minutos, enquanto que num canto da mesma sala é exibido num monitor TV a versão integral do filme Vertigo.”
Fiquei absorta com os close-ups conjugados com a densidade dramática da música e da imagem.

Senti vontade de ter mais experiên- cias em vídeo, de ser mais espontânea no trabalho, de ser mais inovadora em tudo, de ser mais participativa no mundo das artes e de convidar todos os amigos a cultivar a liberdade na criação.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Museu Brecht-Weigel-Gedenkstatte


Há lugares com histórias tão pessoais, que nos ajudam a escrever as nossas...
Na rua chausseestrabe 125, viveu os três últimos anos de sua vida, Bertolt Brecht, um dos maiores dramaturgos, século 20, com a sua mulher, a atriz Helene Weigel.
Berlim que é uma cidade por onde já passaram inúmeros artistas e intelectuais, não teve nenhum outro escritor moderno que tenha deixado marcas tão nítidas na cidade como o dramaturgo Bertolt Brecht.
No Museu Brecht-Weigel-Gedenkstatte, vemos Brecht na intimidade. Vemos na sala, a mesa com sua máquina, na qual ele escreveu muitas das suas peças e grande parte de sua poesia. Vemos a vasta biblioteca de livros de Brecht em vários idiomas.Vemos pela janela o cemitério onde ele e, mais tarde, sua esposa foram enterrados.


Brecht é um dos dramaturgos mais encenados do mundo e a Ópera dos Três Vinténs, uma das peças mais famosas do planeta. Ele é o único dramaturgo alemão encenado em todo o mundo, e nisso está bem à frente de Goethe. Neste aspecto, Brecht só pode ser comparável a Shakespeare, Molière, Eurípedes e Goldoni. Ele iniciou seu trabalho como diretor de teatro, na parte de Berlim sob ocupação soviética, formando o trabalho e filosofia que o Berliner Ensemble mantém até hoje.

No meio teatral Bertolt Brecht é sempre citado como um importante teórico teatral e seus conceitos são amplamente discutidos, mas temos todos dificuldade em entender amplamento o que venha a ser, o distanciamento, o verfremdungseffekt, o efeito do afastamento.
Sua concepção cénica é baseada na necessidade de estabelecer uma distância entre o espectador e os personagens, para que o ponto de vista crítico do autor provoque no espectador uma tomada de consciência.



Brecht Brecht, teve suas obras lançadas ao fogo,
durante a queima de livros organizada pelos nazistas na atual Bebelplatz, em 1933, um dia após o incêndio do Reichstag. Foi um ano com muitos acontecimentos marcantes na vida de Brecht, no início do ano, sua peça A Medida, foi interrompida por policiais. Nesse mesmo ano, percebendo que começaria a caça aos opositores do regime que se instalara no poder com a ascensão de Hitler a chanceler do Reich, Brecht partiu para o exílio dinamarquês com seus filhos e sua terceira mulher, a atriz vienense Helene Weigel, e só retornou à Alemanha em 1948.
No exílio escreveu várias peças inspiradas em sua luta contra o nazismo, e no seu regresso fundou o grupo teatral ´Berlin Ensemble´, onde encenou muitas de suas peças politicamente provocativas.

O teatro da diversão, o teatro trash, o teatro de agressão, tudo isso já passou e Brecht continua sendo vanguarda. Suas peças e sua maneira de ver o teatro, ampara as pessoas que estão em busca de sentido num mundo frio e pragmático.

“O amor é a arte de criar algo com a ajuda da capacidade do outro.”

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

LOVE IN LISBON

No sábado enquanto passávamos de carro na Av. a beira Tejo, o Gustavo gritou:“LOVE”!
Como? Onde? e ele disse:As esculturas do Robert Indiana estão lá…
Como eu não havia visto nada, a não ser os inúmeros contentores, achei um pouco estranho...

No domingo de manhã, fomos no local em que ele achava que havia visto as esculturas, quando lá chegamos não havia nada, andamos em meio aos contentores e nada, voltamos decepcionados…
Hoje pela manhã ele me ligou e disse: O LOVE está na Praça da Figueira!
Fiquei muito feliz de poder usufruir dessas imagens e vim compartilhar.


Robert Indiana é um artista americano do movimento Pop Art, que usou de irreverência e ironia em seus trabalhos, através de imagens repetidas.
Inspirou-se na arte comercial, com abordagens diversificadas e passou a chamar seu trabalho de "poemas escultóricos". No trabalho de Indiana, vemos imagens, em especial números e palavras curtas como: "EAT", "HUG", e "LOVE".

O LOVE de Robert Indiana é uma imagem frequen- temente citada. Ele criou o desenho para um cartão de Natal em 1964, e posteriormente exibiu em Nova York, 1966, uma série de pinturas em primeira versão tridimensional da imagem.
Na escultura LOVE, sinto que o contraste entre o ferro e as letras emotivas com a palavra "amor" produz uma tensão que gera muito interesse no trabalho de Indiana.

“Dá-me uma proximidade que não tenho. Desconstrói a fome, a sede. Reinventa-me. Refaz-me.

”

sábado, 24 de novembro de 2007


Na minha visita a Berlim o que mais me impressionou foi ver em vários e diferentes lugares obras, parece que toda a cidade vive a reconstrução e a busca a uma identidade como cidade unificada.

Berlim comemorou agora em novembro os 18 anos da queda do muro, a cidade que nunca mais foi a mesma, abriu-se ao mundo. As duas Alemanhas, separadas durante anos, voltaram a ser apenas uma e nas suas inúmeras mudanças Berlim revela-se nova cidade.

Revendo um pouco o passado, voltamos há trinta anos atrás, onde na Alemanha de leste, ser underground era ser contra o sistema, ser ostpunk (punk do leste) e, ao mesmo tempo, pintor, performer e ativista político.
Já do lado da Alemanha ocidental, embora tivessem liberdade para falar e participar muitos artistas e músicos rejeitavam também a cultura limpinha e democrática, que lhes entrava pela casa adentro.

O que representava ser underground , de um e de outro lado do muro, nos anos oitenta, em Berlim, parece não fazer mais sentido e agora você percebe esse modo de vida sendo questionado pelos artistas.
Foi na década de noventa o momento de reconstrução e euforia na busca de uma identidade própria para a cidade unificada. A cultura underground berlinense teve então seu auge, onde o charme da decadência imperava num clima imaginário de pós-guerras.

Hoje a mudança vertiginosa de Berlim e o espaço para a vida alternativa, que era tão atraente para tantos, diminuiu e já começa a se incorporar no todo da cidade.
As multinacionais da área de comunicação, tem um plano de reabilitação das margens do rio Spree, o projeto Media Spree, A Universal, a MTV e a operadora de celulares O2, são apenas algumas das que disputam os terrenos e armazéns ocupados por galerias de arte, salas de concertos, associações, cooperativas, comunas, ateliers, bares, e o que não sabemos é para onde irá a cultura underground de Berlim.

domingo, 18 de novembro de 2007

David Lynch

Ontem fui inundada pelo Universo Lynch:na minha frente ele entrou no palco do Centro de Congressos do Estoril em grande estilo, rosto límpido, cabelo grisalho,penteado impecável, gravata amarela, sob uma gabardina preta à Dale Cooper, sorrindo começou por dizer: ”This David Lynch guy is nuts... mas vamos experimentar e ver o que sucede”.
Havia uma grande euforia na masterclass com David Lynch: 'A Arte, a Vida e a Meditação Transcendental'.Todos queriam ser absorvidos por esse universo para vai além das sensações e para estados de espírito que passam por transes de meditação.

David Lynch foi homenageado pelo European Film Festival, que encerrou no Estoril, e teve uma completíssima retrospectiva da sua obra,
recebendo o Prémio de Carreira, das mãos de Julee Cruise.
Na sessão de perguntas e respostas, se falou de Inland Empire e Mulholland Drive, de seus dois últimos filmes, da série Twin Peaks e sempre de meditação trancendental.
Há mais de 30 anos Lynch, mantém a disciplina da meditação transcendental, e defendeu-a como: “um oceano de consciência sem limites, eterno, profundo, uma via privilegiada para atingir a paz mundial, e a felicidade universal.”
Lynch lançou a David Lynch Foundation For Consciousness-Based Education and Peace, que visa financiar pesquisas sobre os efeitos positivos da meditação.

O cineasta, que escreveu um livro sobre o impacto da meditação sobre a criatividade, “Catching the Big Fish”, disse:“A meditação transcendental é uma claridade doce e elétrica, que traz ondas de felicidade e proporciona a expansão da mente, plenitude e é uma porta aberta para a iluminação.”
A meditação transcendental, defendeu Lynch é “dinheiro no banco para os artistas, é sua ferramenta número um porque traz mais criatividade, felicidade e disponibilidade,afastando a negatividade, que é como veneno para os artistas.”
Dentro da atmosfera lynchiana, incentivou os futuros diretores de cinema a serem sempre fiéis a si mesmos, nunca aceitarem um não como resposta, nunca abdicarem do final cut e nunca rejeitarem uma boa idéia.
As idéias para os seus filmes revelou Lynch,
surgem continuamente, mas em fragmentos que vão sendo trabalhados. Mostrou seu entusiasmo com as câmaras digitais e disse que depois de ter descoberto as câmaras digitais em Inland Empire, ficará doente se tiver que voltar a rodar outro filme em celulóide.
A maioria dos profissionais de cinema que ali estavam, queriam focalizar nas perguntas sobre cinema e ele fez questão de lembrar o tema da masterclass, dizendo que “o cinema não é só uma coisa intelectual, mas é também uma coisa da intuição e a meditação transcendental é a porta que se abre e nos leva ao mais profundo estado de nossa consciência”.

sábado, 10 de novembro de 2007

Pedro Almodóvar no European Film Festival

Ontem, fui assistir a palestra de Pedro Almodovar, no auditório do Casino do Estoril, no European Film Festival.
Foi um encontro com um autêntico showman, com humor, presença marcante e espontaneidade, falando em espanhol, sem tradução, Almodovar conduziu a plateia portuguesa, jovem na sua maioria, deixando todos muito a vontade para fazer perguntas com intimidade e descontração.
Pedro Almodovar, que veio ao Estoril acompanhar a retrospectiva do seu trabalho e receber um premio especial do European Film Festival, aproveitou a sua estadia em Portugal para também ter esse encontro com seu público.
Como ele estava muito solto, as perguntas vieram de todo o lado, ele disse que não falaria de seu novo filme que será rodado em Janeiro, devido aos problemas de direitos autorais, disse ter enfrentado problemas com o nome do filme “Volver”, pois alguém depois dele ter contado sobre o filme, registrou o nome e lhe causou problemas.
Pediram para que ele falasse sobre seus filmes e Almodovar disse:«É muito difícil falar de cada um dos meus filmes. Cada um é uma etapa da minha vida. Não tenho um favorito mas assumo toda a minha trajetória».




(Na foto ao fundo, Paulo Branco, o director artístico e produtor do festival)
Uma senhora, que se apresentou como Venezuelana, fez a pergunta que creio ser a mais comum: Porque você tem tanto fascínio pelo Universo Feminino?
Ele falou que isso não era tão consciente, era espontâneo, ele começava a escrever e então surgiam naturalmente muitas mulheres. Explicou que na sua infância, morou em uma aldeia, no interior da Espanha, onde “os homens trabalhavam o dia todo e só voltavam para a casa à noite”, e que “as mulheres achavam que pelo fato dele nessa altura ter quatro, ou cinco anos era cego surdo” e então, ficavam muito à vontade com ele ao lado, “vendo-as coser, ouvindo-as cantar e contar as tragédias que ocorriam na aldeia”, e desde então, que a mulher era para ele : “a máxima representação da vida”.


Teve um momento muito especial em que ele disse brincando para um entrevistador que não fizesse nenhuma pergunta de política internacional e então o rapaz respondeu que era justamente o que ele queria perguntar, já que o ministro francês Dominique de Villepin (de direita) estava na sala, e fotografei…
Muitas risadas, passaram o microfone para o ministro, e o Almodovar quis saber se era verdade que Villepin tinha gostado do filme Volver, pois ele havia ouvido falar. O político francês confirmou e disse que apreciava a obra do Almodovar.
Almodovar: Há políticos, como o presidente da Câmara de Madrid, que por vezes, me dizem que gostam muito de meus filmes e logo a seguir me pedem um favor” Risadas e o clima foi ficando mais descontraido ainda e alguém perguntou onde é que ele ia buscar inspiração, e como surgiam as idéias para os filmes.
Ele disse que era do cotidiano, podia surgir a qualquer momento e contou que um dia passando na rua viu um anúncio que dizia: “Dona Sangre”(doa sangue). Ele imediatamente pensou, existe um grupo de vampiros por detrás disso e começou a desenvolver a ideia, o público gargalhava com a entrega dele, enquanto descrevia e interpretava o presumível filme, pudemos ver sua natureza criativa.
Houve declarações: “Gracias por existir” e “Para mim, há dois espanhóis que compreendem muito bem as mulheres: Garcia Lorca e você”
E a última pergunta foi qual o tipo de música que ouvia enquanto criava, ele falou de música eletrónica em que ele não precisava prestar atenção e ao mesmo tempo o embalava no processo e que gostava muito de ouvir as músicas do Caetano Veloso e sua irmã, e claro, fiquei contente de ver a referência ao Brasil.
Viva Arte!
Arte Viva!

domingo, 4 de novembro de 2007

Joseph Beuys

Berlim é uma cidade de arte e cultura, para os seguidores de todas as artes. A cidade mantém um fluxo permanente, nunca cessa de causar surpresas, dando-nos inspiração para o nosso desenvolvimento e criatividade.
Foi visitando o Museu Hamburger Bahnhof, que pude ver, na coleção permanente, a obra de Joseph Beuys.

Joseph Beuys (1921–1986) é considerado um dos mais influentes artistas europeus da segunda metade do século XX, e o artista plástico alemão mais importante depois da Segunda Guerra Mundial. Com uma personalidade controvertida e um modo muito peculiar de encarar o mundo, foi o inventor do “conceito ampliado da arte”: “Toda pessoa é um artista”, é a sua frase mais famosa.

"Libertar as pessoas é o objetivo da arte, portanto a arte para mim é a ciência da liberdade."


Beuys, foi um questionador por excelência que mostrou com sua obra que está longe o tempo em que teremos uma definição de arte que elimine as controvérsias. Partindo das oposições razão-intuição, frio-calor, ele trabalhou para o restabelecimento da unidade entre cultura, civilização e vida natural, revolucionando as idéias tradicionais sobre a escultura e apontando novos caminhos para a arte em sua constante mutação.
Conta a história que Joseph Beuys foi piloto da Força aérea nazista durante a Segunda Guerra Mundial, e quando seu avião foi abatido sobre a Criméria, ele foi socorrido por nativos que envolveram seu corpo em gordura animal e feltro, materiais que se tornaram constantes em sua obra.
Ele atribuía um grande simbolismo à função física de cada material que selecionava para suas obras. que integram a polaridade metabolismo e neuro-sensorial na filosofia de Steiner.


Joseph Beuys frequentou os grupos de antropósofos em Dusseldorf, articulou a ideia da "unidade na multiplicidade", dos quatro níveis do homem: corpo físico, corpo etérico, corpo astral e o "Eu". A influência da antroposofia de Steiner fica estabelecida na relação que ele trava com a natureza.
O instinto animal, para Beuys era uma forma de inteligência superior, o artista inspirava-se na observação de lebres, pássaros, cavalos, e os demais animais que podia observar e retratava-os em performances, onde questionava que o animal morto pode ser uma obra de arte, no instante em que alguém decide que assim o é.

"Tornai os segredos produtivos."
Confesssares

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Outono em Berlim

“Aonde vamos? Não me perguntes! Sobe e desce. Não existe começo, não existe fim. O que existe é o momento presente, e eu o desfruto por inteiro”


Queria perder-me nos largos horizontes do maravilhoso parque Tiergarten, (em alemão: “jardim de animais”), no frio sol de outubro, nessa parte ocidental da cidade de Berlim, onde caminhamos em toda sua extensão rodeados por cores de outono.

O vento ondulava as copas das árvores que deixavam cair folhas de mais diversas tonalidades...
Contemplamos apenas e caminhamos.

“Eu me dou a tudo. Amo, sofro e luto. O mundo me parece mais vasto do que a mente e meu coração um mistério obscuro e onipotente”



“O sagrado tem caule e tem raízes,
É uma presença muda e vegetal...
Folhas - línguas discretas
Que nem mesmo os poetas
Devem ouvir...
A sombra do silêncio a revestir
Os gestos rituais
Dos ramos que são braços actuais
A receber o tempo que há-de vir.”

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Teatro Nacional D. Maria II


Em Lisboa, moro na freguesia da Sé, centro histórico, que fica próximo a vários lugares que gosto de visitar.
Sempre que posso, subo a Rua Augusta e vou ao Teatro Nacional D. Maria II, visitar a biblioteca, ver as novidades da livraria e pegar o jornal do teatro, para ler sobre os espetáculos e eventos do momento.
Vou ao teatro D. Maria (como é chamado) assistir aos novos espetáculos que entram em cartaz, os que acho mais interessantes claro, já que temos sempre várias peças de teatro, se apresentando em simultâneo.


Assisti a muitos espetáculo de lugares privilegiados quando tinha em Lisboa, a agência de casting (Casting Design) pois os atores faziam questão de me deixar bem acomodada para apreciar os seus trabalhos e eu usufruia dessa condição com muito prazer.


Vivi muitas estórias no Teatro D. Maria, vou contar algumas… Quando estava fazendo o casting para a novela “Banqueira do Povo”, com a direçao do Walter Avancini, para a RTP 1 , eu queria muito que Eunice Munhoz (“primeira dama” do teatro Português) aceitasse a proposta de fazer o personagem principal da novela. Achei que para eu ser bem sucedida nessa empreitada deveria ir com o Walter, pois ele tinha um bom conceito em Portugal, por causa do sucesso da novela "Gabriela". Ele aceitou a idéia, e fomos juntos falar com ela. Eu que havia visto a Eunice Munhoz, no espetáculo “Mãe Coragem” do Brecht, e que tinha ficada impressionada com sua magnífica atuação,estava na maior torcida para que ela fizesse parte do elenco da novela.
A Eunice munhoz nos recebeu no Teatro D. Maria, em seu camarim, antes do início do espetáculo: “Passa por mim no Rossio”. Quando entramos ela parou a maquiagem, para conversar conosco, a princípio demonstrou que não tinha interesse em fazer novela, mas Avancini foi suficientemente sedutor e conseguimos com que ela aceitasse o convite, e para a felicidade geral, ela fez e muito bem, o personagem Dona Branca, na novela “A Banqueira do Povo".

Devo ainda dizer que graças ao Teatro Nacional D. Maria II, assisti fabulosas palestras, e apresentações inusitadas, tanto nos espaços convencionais quanto nos improvisados, que sempre me conduziram a uma busca incessante dos novos e possíveis caminhos para o teatro.




Fiz em 2006, patrocinado pelo D. Maria, um curso para atores profissionais, de muita qualidade: “O Corpo do Actor” com Gianluigi Tosto, que aproveitou a ocasião da sua estadia em Portugal para transmitir sua técnica.
O ator italiano, estava em temporada no D. Maria, dando voz e corpo aos três textos fundadores do género épico – “Ilíada”, “Eneida” e “Odisseia” - ele sem precisar recorrer a grandes artifícios, acompanhado apenas de meia-dúzia de instrumentos, fez dos três espetáculos rituais inesquecíveis.
No curso deu para perceber a profundidade de sua técnica, sua especial atenção ao treino do corpo e da voz do ator,bem como à interação entre o corpo e a mente. Trabalhamos com extrema sofisticação a voz e o seu controle, bem como a consciência de alguns elementos fundamentais no corpo humano, como a articulação dos membros, ou o alinhamento da coluna vertebral e sua flexibilidade.


Em 2007 foi a vez do brasileiro Aderbal Freire Filho, que trouxe para o Teatro Nacional D. Maria II, seu espetáculo: “O que diz Molero”, do português Dinis Machado, e realizou um curso, "Actor de Teatros” do qual fiz parte entre vários amigos atores.
No curso aprendemos realizar « uma encenação de um texto não teatral, integralmente transposto para o palco», em que tenta «descrever com gestos o que as suas palavras (do texto) vão narrando.» ainda nas palavras de Aderbal:«O “romance-em-cena” assenta assim na imaginação despertada no espectador e nos recursos cénicos que estão ao dispor do ator, fazendo-o, simultaneamente, dizer e mostrar. Acaba por ser a convivência de uma capacidade narrativa e dramática que faz do ator um profissional mais completo. »
Na conclusão da oficina, "Actor de Teatros” fizemos as apresentações na sala experimental do Teatro Nacional D. Maria II, com a presença na platéia de Marieta Severo que muito nos prestigiou e de vários e renomados atores Portugueses.Todos nós, atores envolvidos no projeto, queríamos a continuidade no estudo e nas possíveis montagens.
Durante os ensaios o clima foi sempre de contentamento e satisfação e por isso ficaram as saudades do convívio entre colegas, do trabalho e do tempo passado com o Aderbal. Ficamos todos amigos, trocamos e-mails, e por vezes, promovemos tertúlias em Lisboa para comemorar: Amor, Alegria, Agradecimento e Arte!
Beijares confessares e alegrares

sábado, 13 de outubro de 2007

Paulo Auntran

Viva Paulo Autran!!!
Paulo Autran Viva!!!
Morre Paulo Autran,o sinônimo de teatro, um homem único e insubstituível que dignificou a nossa profissão.



Em 13 de dezembro de 1940, subiu ao palco pela primeira vez, interpretando Zeus, na peça “Um deus dormiu lá em casa”, de Guilherme Figueiredo, e morreu em 12 de outubro de 2007, praticamente no palco ,fazendo "O Avarento" , que foi sua 90º montagem teatral.



Ele foi uma grande figura do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), na Companhia Tônia-Cheli-Autran e toda essa geração que trabalhou com os diretores: Ziembinski e Flaminio Bollini, sublinho que nessa época o teatro brasileiro tinha o mesmo valor do melhor teatro mundial!
Alguns dos inúmeros sucessos, de Autran, nos palcos: "Otelo", "Antígone", "My Fair Lady", "Liberdade, Liberdade", "A Morte do Caixeiro Viajante", "Visitando o Sr. Green" e "Adivinhe quem Vem para Rezar".




PAULO - "Sou apenas um homem de teatro. Sempre fui e sempre serei um homem de teatro. Quem é capaz de dedicar toda a sua vida à humanidade e à paixão existentes nestes metros de tablado, esse é um homem de teatro." Na voz de Paulo Autran, essas palavras foram ouvidas nos palcos de dezenas de cidades brasileiras no espetáculo Liberdade, Liberdade, um dos muitos grandes sucessos de sua longa carreira!”

“É pau, é pedra, é o fim do caminho

É um resto de toco, é um pouco sozinho

É um caco de vidro, é a vida, é o sol

É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
”
(Tom Jobim)

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

“Olhar da Testemunha“ e “CO2 Bruxelas ao Infinito”


Para quem está em São Paulo, tem até o dia 11 de novembro para ver no MUSEU DE ARTE BRASILEIRA DA FAAP, 
a retrospectiva “Olhar da Testemunha“,de Jean-Michel Folon, que reúne 90 obras da coleção de Paola Folon, viúva do artista, com pinturas e aquarelas produzidas a partir da década de 1970




e a coletiva “CO2 Bruxelas ao Infinito”, organizada pelo Espaço Fotográfico Contretype, em Bruxelas, cidade retratada nesta mostra, com 19 fotógrafos europeus em diferentes propostas.


“De onde vêm as idéias? Vêm da observação da vida. Depois os momentos vividos e as coisas sentidas tornam-se lembranças. Lembranças de cidades, de amizade, de amor. Lembranças de luz. São elas que fazem nascer as imagens. E as imagens se misturam na cabeça. E acontece até mesmo de elas tentarem se lembrar das lembranças. Para, por sua vez, se tornarem lembranças.”


“Uma imagem é uma troca. Nós a fazemos e os outros a entendem. É uma garrafa jogada ao mar que confiamos ao acaso. Com a imensa esperança de que alguém a encontre.”
Jean-Michel Folon

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Geografia Sagrada


Cromeleque dos Almendres, fica em Portugal, Évora-Montemor, escondido na natureza, onde permanece quase desconhecido, envolto em mistérios e enigmas.



Quando visitei o Cromeleque dos Almendres, senti a potência da natureza local nas pedras que continham as chaves, para uma identidade a ser decifrada…



Gravuras,alinhamentos, entrosamento dos cerca de cem menires, e a evocação de uma mitologia lunar divina,despertavam uma intensa experiência artística.


No recinto de Almendres, a percepção do presente, o espaço, a memória, o precioso estoque de informações do passado... e eu ali com as infinitas possibilidades!
A desconstrução do tempo; a eternidade no instante; o agora; a exaltação da geografia sagrada!


"sacred sites and places are sometimes physically empty or largelly uninhabited, and situated at some distance from the populations for which they hold significance" (Hirsch)