terça-feira, 26 de agosto de 2008

Wim Wenders


Fui assistir na sexta feira passada, uma palestra no Masp com o cineasta Wim Wenders, que foi sabatinado, entre outros, pelo cineasta Walter Salles e pelo jornalista Alcino Leite Neto.

Wenders que renovou a linguagem cinematográfica em suas releituras dos clássicos americanos, persegue desde seu primeiro longa-metragem: o deslocamento, a fuga, a incomunicabilidade e a solidão. Influências apreendidas, possivelmente, das pinturas do americano Edward Hopper, referência importante no cinema de Wenders.

Logo no início da sabatina, o cineasta alemão fez menção ao arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, que foi um dos introdutores da idéia de Brasil para ele. Comentou que foi apaixonado pelo trabalho do arquiteto e que ficou impressionado com a idéia de construir uma cidade no meio da selva, assim era apresentada a obra na Alemanha.
Contou que quando jovem, começou sua formação particular em cinema, na cinemateca de Paris, lugar onde era mais barato e quente passar o tempo, por conta disso, assistiu a mais de mil filmes, isso antes de ser aceito para estudar na recém-inaugurada: Escola Superior de Cinema e Televisão de Munique.





Wim Wenders comentou que os cineastas que mais o influenciaram, tinham um forte sentimento em relação a geografia, entre eles o japonês Yasujiro Ozu, o brasileiro Glauber e o norte-americano John Ford. Ele que considera viajar muito interessante para a mente, porque nos torna mais vivos, disse que unificar as duas vertentes: viajar e filmar, faz com que você viva e filme as estórias.
Disse ainda que os filmes podem: transportar as pessoas para outros lugares, nos fazer mergulhar em outros Paises e nos ajudar a descobrir locais e culturas específicas.

Com a experiência de mais de 40 filmes realizados, Wenders disse que hoje está bastante otimista em relação ao futuro do cinema e ressaltou as vantagens das novas tecnologias. Disse que os recursos digitais expandiram a linguagem e o vocabulário do cinema, além de permitir aos jovens diretores uma liberdade muito maior do que tiveram os diretores de sua geração.
Acrescentou que gostaria de ser um jovem cineasta agora e descobrir uma verdadeira voz com as novas tecnologias. Sou um entusiasta com as novas possibilidades, disse acrescentando, que o mundo de hoje não pode ser tratado com o vocabulário antigo.

Wenders chegou a conclusão de que o estilo de produção e narração dele não combinava com a forma de trabalho da fábrica de sonhos comercial norte-americana. Desabafou quando contou sobre sua primeira experiência hollywoodiana, com o mistério Hammett. O produtor era Francis Ford Coppola, um americano que não foi tão seu amigo assim. Devido a diversos conflitos criativos, Wenders demorou a ver seu filme ser lançado, e quando o viu foi com uma versão bastante diferente da que idealizou. Wenders com um jeito cúmplice, disse para o Walter Sales, que estava sentado ao seu lado:”Eu te avisei”. Ele respondeu: “Você não foi enfático o suficiente”.

O cult Wim Wenders, contou que o filme Asas do Desejo, festejado por público e crítica, foi na verdade feito sem roteiro, com improvisações dos atores e inspiração local. O que acontece sem planejamento, ao acaso é precioso, que não controlar o processo criativo, funciona como uma cura para a alma e para a mente, concluiu. Quando foi questionado se isso era possível de ser feito hoje em dia, respondeu que mesmo para ele que já havia provado que conseguia filmar sem roteiro, isso não era possível, então ele confessou que escrevia roteiros falsos, só para conseguir financiamento.

Sai do Masp com a sensação positiva, Wenders em nenhum momento pretendeu ensinar, mas com sensibilidade, soube incentivar todos a buscar suas éticas e estéticas a favor da arte.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Lisboa: o que o turista deve ver

Você já pensou em ter Fernando Pessoa como seu cicerone na cidade de Lisboa?!

É o que acontece quando você lê o livro Lisboa: o que o turista deve ver. Um guia turístico escrito originalmente em inglês por Pessoa.

A charmosa cidade branca que Fernando Pessoa descreve é exageradamente perfeita, faço o mesmo quando falo de Lisboa para os amigos. Compartilho dessa vontade de exaltar Lisboa para o estrangeiro.

"Sobre sete colinas, que são outros tantos pontos de observação de onde se podem desfrutar magníficos panoramas, estende-se a vasta,irregular e multicolorida aglomeração de casas que constitui Lisboa. Para o viajante que chega por mar, Lisboa, vista assim de longe, ergue-se como a formosa visão de um sonho elevando-se até ao azul intenso do céu, que o sol aviva.(...) Ai está Lisboa."


O poeta começa pela Praça do Comércio, com o enorme arco triunfal que dá acesso à elegante Rua Augusta. Moro em frente ao Tejo, perto dessa praça e de muitos lugares descritos no livro: Rua do Ouro, o elevador da Santa Justa, o Rossio, isso causa uma sensação atemporal, tudo está muito semelhante ao descrito por Pessoa. Fica a impressão que irei encontra- lo no Chiado para tomarmos um café na Brasileira, lugar onde ele prestava homenagem à estátua do poeta António do Espírito Santo, e hoje encontramos o próprio Fernando Pessoa, transformado em estátua sentado à mesa.

Pessoa indica ainda, o Teatro Nacional Almeida Garret, hoje chamado de Teatro Nacional Maria II, de onde trago tantas recordações. Ele conduz ainda o visitante pela Avenida da Liberdade, e vai até os jardins do Campo Grande...


“Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras,
Acordar da Rua do Ouro,
Acordar do Rossio, às portas dos cafés,
Acordar
E no meio de tudo a gare, que nunca dorme,
Como um coração que tem que pulsar através da vigília e do sono.”

Com ênfase no nacionalismo ele nos dá a descrição das figuras exaltadas em monumentos, e cita fatos importantes da história portuguesa, e oferece ainda a ficha dos arquitetos e artistas que assinam a construção dos prédios da cidade.

“Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores ...
À força de diferente, isto é monótono.
Como à força de sentir, fico só a pensar.”



Pessoa demonstra no seu guia, preocupação com a diminuição da importância da capital portuguesa e sua descaracterização diante das demais metrópoles do Velho Continente, o que realmente não tardou a ocorrer. Com toda a visão critica, ainda hoje, reconheço a beleza dos pequenos cantos da cidade, a luz tão aclamada pelos cineastas, os pequenos oásis de verde, e os monumentos que ele tão bem enaltece...

“Pessoa amou Lisboa. Pessoa rima com Lisboa”.

Lis boa! Lis ótima!