quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Palestra de Bob Wilson

Disse o poeta Drummond, que de tudo fica um pouco, da palestra de Bob Wilson, realizada no Masp na semana passada, ficou mais do que um botão...
Ficou o contagio pela sua criatividade e reflexão artística. “Se você sabe o que está fazendo, não faça. É necessário questionar o que se está fazendo"
De tudo ficou um pouco ... Ficou muito dos relatos, desse dramaturgo,encenador,artista plástico, homem da imagem que revolucionou e exerceu grande influência sobre o teatro brasileiro. Entendi que a melhor maneira de conhecer o trabalho dele é passar pela experiência de vê-lo.
Ficou o espírito crítico de Bob Wilson, que entre outras coisas disse que o teatro feito hoje em dia é simplesmente "um texto decorado" e ressaltando a importância do trabalho corporal do ator: “Quanto mais você repete o trabalho, mais livre se é. Como andar de bicicleta. Quando se aprende, você faz sem pensar".

"Mas de tudo fica um pouco...
Faço o espetáculo primeiro sem palavras e acrescentamos as palavras mais tarde". "Elas têm de vir deles, não podem ser algo mecânico."
“O meu trabalho é contra o naturalismo é algo apresentado formalmente. Desde o início e até hoje eu sempre tive interesse no movimento que existe dentro do retrato.
Eu sempre começo o trabalho em silêncio, muitas vezes quando estamos muito quietos, nós nos tornamos muito mais sonoros, do que quando fazemos muitos sons. Quando estamos imóveis, nós temos mais consciência do movimento do que quando estamos nos movimentando. O vídeo-retrato lida com essa imobilidade e com o ouvir o silêncio.”

Como de tudo fica um pouco... guardei essa estória que Bob Wilson contou:
Eu fiz um vídeo-retrato de uma pantera negra sentada em uma mesa. Ela tinha uma corrente em torno do pescoço, como se o dono quisesse tira-la. Filmamos com cerca de 65 técnicos no estúdio, O dono disse: pode tirar a corrente, mas eu não sei se todos gostariam de ficar na sala com uma pantera sem a coleira, cerca de dois terço dos técnicos disseram que não ficariam com a pantera sem a coleira, então alguns de nós ficamos. Depois de um certo tempo a pantera se acalmou, se reclinou sobre a mesa, nós tiramos a coleira, o dono ficou atrás dela e disse: se a pantera pular da mesa e correr em sua direção não se mova.
Normalmente eu não falo no estúdio, não me movimento e nem as pessoas com quem trabalho, é tudo feito em silêncio. A pantera ficou sem a coleira por cerca de meia hora sem se mover e também ninguém se moveu no estúdio. O que foi notável nessa meia hora é que de certa forma, todos nós éramos como a pantera, respirávamos juntos, ouvíamos juntos, era como se houvesse uma única entidade naquela sala. Não estávamos ouvindo somente com o nosso ouvido, mas como a pantera ouve, como o seu próprio corpo!
Vale a pena conhecer o trabalho do Bob Wilson, pesquisar um pouco mais… Ficou da palestra o que criou ressonância mais forte em meu mundo… “Se de tudo fica um pouco, 
mas por que não ficaria 
um pouco de mim?”