quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Tarsila do Amaral


Nessa minha volta a São Paulo, foi muito significativo ver as obras de Tarsila do Amaral, que com toda sua brasilidade, foi representante do movimento modernista, e trouxe renovação para a arte brasileira

A exposição Tarsila Viajante, que fica até 16 de março na Pinacoteca do Estado, aborda a influência das viagens, no trabalho da pintora. Você pode ver na trajetória de Tarsila, pelo tempo e espaço, 35 pinturas e 120 desenhos, incluindo Abaporu, A negra e Antropofagia!

Revivi com Tarsila a busca da identidade brasileira, nas suas “viagens”, apresentada nos seis núcleos da exposição: Anos de formação, Ensaios modernistas, O descobrimento do Brasil, Viagem ao Oriente Médio, Brasil mágico e Viagem a União Soviética.
Um de seus quadros, Abaporu, que serviu como inspiração e síntese do Manifesto Antropófago, criado pelo Oswald de Andrade, comentado aqui no Serenade, quando indignada o vi em Buenos Aires, no MALBA. Agora foi com enorme prazer, que pude ver juntas as três importantes pinturas da artista: Abapuru, A negra e Antropofagia!

“Uma figura solitária monstruosa, pés imensos, sentada numa planície verde, o braço dobrado repousando num joelho, a mão sustentando o peso-pena da cabecinha minúscula. Em frente um cacto explodinda numa flor absurda.” Comentário de Tarsila sobre o quadro Abapuru.


Depois da separação do primeiro marido, Tarsila que passou a morar em São Paulo, dedicava-se ao piano, à composição de versos e à pintura. Depois de ter decidido pelas artes visuais deu um depoimento dizendo: “Por timidez passei a fazer pintura”

Tarsila foi apresentada por Anita Malfatti, ao grupo dos Modernista, com a afinidade e amizade entre eles, formou-se o chamado Grupo dos Cinco com Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade, com quem se casou.
As reuniões desse grupo eram animadas, constantes e tinha a participação de outros artistas da Semana da Arte Moderna.



Tarsila, após seu retorno da Europa, em 1923, trouxe para sua pintura soluções realmente originais, combinando as técnicas do pós-cubismo aprendidas com Andrë Lhote, Albert Gleizes e Fernand Léger, com temas e um colorido profundamente identificados com a cultura brasileira. Podemos reconhecer em suas obras, que Fernand Léger, a marcou profundamente.

Sobre sua viagem ao Oriente Médio Tarsila declarou:
“Depois de três meses que passei no Oriente Próximo, turquia, Grécia, Arménia, Palestina; Egito, Chipre, Rhodes, depois do contato mais intimo com a arte Oriental, lembro-me de voltar a Paris , achei as suas vitrinas , na sua maioria, feias pela suas decorações flasas, porque nem tudo que se faz em Paris é bom, como muita gente ainda pensa. A falsidade e o desejo evidente de originalidade me chocaram profundamente”

Sinto-me próxima a Tarsila viajante, que levou de cada lugar que visitou elementos para enriquecer sua vida, não separou o intimo do artístico e descobrindo a si mesma revelou um Brasil moderno.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Jardim da Luz - São Paulo

Depois da exposição “Tarsila Viajante”, fui caminhar no Jardim da Luz, e refletir sobre as maravilhas que acabara de ver. Como os frequentadores do Serenade sabem, nesse jardim encontra-se a sede da Pinacoteca de São Paulo.

No Jardim da Luz, onde originalmente foi um jardim botânico, transformado em espaço público no fim do século XIX, você caminha cercado de arte por todos os lados…

Em São Paulo, com sua cultura forte e própria, sentimos a decadência da civilização, eu como paulista desfruto dessa cidade da melhor maneira que posso, e tento reconstituir as sensações que ela suscita. Registro meus passos, na intenção dela conservar sua memória, não perder a alma e sonhar com o futuro.

“Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.”


"Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores."

"Olha: o amor pulou o muro, o amor subiu na árvore em tempo de se estrepar. Pronto, o amor se estrepou. Daqui estou vendo o sangue que escorre do corpo andrógino. Essa ferida, meu bem, às vezes não sara nunca. Às vezes sara amanhã."

"Eu vejo as árvores verdes, rosas vermelhas também
Eu as vejo florescer para nós dois
E eu penso comigo... que mundo maravilhoso

Eu vejo os céus azuis e as nuvens brancas
O brilho do dia abençoado, a sagrada noite escura
E eu penso comigo... que mundo maravilhoso

As cores do arco-íris, tão bonitas nos céus
E estão também nos rostos das pessoas que passam
Vejo amigos apertando as mãos, dizendo: "como você vai?"
Eles realmente dizem: "eu te amo!"
Eu ouço bebês chorando, eu os vejo crescer
Eles aprenderão muito mais que eu jamais saberei
E eu penso comigo... que mundo maravilhoso
Sim, eu penso comigo... que mundo maravilhoso"