segunda-feira, 26 de novembro de 2007

LOVE IN LISBON

No sábado enquanto passávamos de carro na Av. a beira Tejo, o Gustavo gritou:“LOVE”!
Como? Onde? e ele disse:As esculturas do Robert Indiana estão lá…
Como eu não havia visto nada, a não ser os inúmeros contentores, achei um pouco estranho...

No domingo de manhã, fomos no local em que ele achava que havia visto as esculturas, quando lá chegamos não havia nada, andamos em meio aos contentores e nada, voltamos decepcionados…
Hoje pela manhã ele me ligou e disse: O LOVE está na Praça da Figueira!
Fiquei muito feliz de poder usufruir dessas imagens e vim compartilhar.


Robert Indiana é um artista americano do movimento Pop Art, que usou de irreverência e ironia em seus trabalhos, através de imagens repetidas.
Inspirou-se na arte comercial, com abordagens diversificadas e passou a chamar seu trabalho de "poemas escultóricos". No trabalho de Indiana, vemos imagens, em especial números e palavras curtas como: "EAT", "HUG", e "LOVE".

O LOVE de Robert Indiana é uma imagem frequen- temente citada. Ele criou o desenho para um cartão de Natal em 1964, e posteriormente exibiu em Nova York, 1966, uma série de pinturas em primeira versão tridimensional da imagem.
Na escultura LOVE, sinto que o contraste entre o ferro e as letras emotivas com a palavra "amor" produz uma tensão que gera muito interesse no trabalho de Indiana.

“Dá-me uma proximidade que não tenho. Desconstrói a fome, a sede. Reinventa-me. Refaz-me.

”

sábado, 24 de novembro de 2007


Na minha visita a Berlim o que mais me impressionou foi ver em vários e diferentes lugares obras, parece que toda a cidade vive a reconstrução e a busca a uma identidade como cidade unificada.

Berlim comemorou agora em novembro os 18 anos da queda do muro, a cidade que nunca mais foi a mesma, abriu-se ao mundo. As duas Alemanhas, separadas durante anos, voltaram a ser apenas uma e nas suas inúmeras mudanças Berlim revela-se nova cidade.

Revendo um pouco o passado, voltamos há trinta anos atrás, onde na Alemanha de leste, ser underground era ser contra o sistema, ser ostpunk (punk do leste) e, ao mesmo tempo, pintor, performer e ativista político.
Já do lado da Alemanha ocidental, embora tivessem liberdade para falar e participar muitos artistas e músicos rejeitavam também a cultura limpinha e democrática, que lhes entrava pela casa adentro.

O que representava ser underground , de um e de outro lado do muro, nos anos oitenta, em Berlim, parece não fazer mais sentido e agora você percebe esse modo de vida sendo questionado pelos artistas.
Foi na década de noventa o momento de reconstrução e euforia na busca de uma identidade própria para a cidade unificada. A cultura underground berlinense teve então seu auge, onde o charme da decadência imperava num clima imaginário de pós-guerras.

Hoje a mudança vertiginosa de Berlim e o espaço para a vida alternativa, que era tão atraente para tantos, diminuiu e já começa a se incorporar no todo da cidade.
As multinacionais da área de comunicação, tem um plano de reabilitação das margens do rio Spree, o projeto Media Spree, A Universal, a MTV e a operadora de celulares O2, são apenas algumas das que disputam os terrenos e armazéns ocupados por galerias de arte, salas de concertos, associações, cooperativas, comunas, ateliers, bares, e o que não sabemos é para onde irá a cultura underground de Berlim.

domingo, 18 de novembro de 2007

David Lynch

Ontem fui inundada pelo Universo Lynch:na minha frente ele entrou no palco do Centro de Congressos do Estoril em grande estilo, rosto límpido, cabelo grisalho,penteado impecável, gravata amarela, sob uma gabardina preta à Dale Cooper, sorrindo começou por dizer: ”This David Lynch guy is nuts... mas vamos experimentar e ver o que sucede”.
Havia uma grande euforia na masterclass com David Lynch: 'A Arte, a Vida e a Meditação Transcendental'.Todos queriam ser absorvidos por esse universo para vai além das sensações e para estados de espírito que passam por transes de meditação.

David Lynch foi homenageado pelo European Film Festival, que encerrou no Estoril, e teve uma completíssima retrospectiva da sua obra,
recebendo o Prémio de Carreira, das mãos de Julee Cruise.
Na sessão de perguntas e respostas, se falou de Inland Empire e Mulholland Drive, de seus dois últimos filmes, da série Twin Peaks e sempre de meditação trancendental.
Há mais de 30 anos Lynch, mantém a disciplina da meditação transcendental, e defendeu-a como: “um oceano de consciência sem limites, eterno, profundo, uma via privilegiada para atingir a paz mundial, e a felicidade universal.”
Lynch lançou a David Lynch Foundation For Consciousness-Based Education and Peace, que visa financiar pesquisas sobre os efeitos positivos da meditação.

O cineasta, que escreveu um livro sobre o impacto da meditação sobre a criatividade, “Catching the Big Fish”, disse:“A meditação transcendental é uma claridade doce e elétrica, que traz ondas de felicidade e proporciona a expansão da mente, plenitude e é uma porta aberta para a iluminação.”
A meditação transcendental, defendeu Lynch é “dinheiro no banco para os artistas, é sua ferramenta número um porque traz mais criatividade, felicidade e disponibilidade,afastando a negatividade, que é como veneno para os artistas.”
Dentro da atmosfera lynchiana, incentivou os futuros diretores de cinema a serem sempre fiéis a si mesmos, nunca aceitarem um não como resposta, nunca abdicarem do final cut e nunca rejeitarem uma boa idéia.
As idéias para os seus filmes revelou Lynch,
surgem continuamente, mas em fragmentos que vão sendo trabalhados. Mostrou seu entusiasmo com as câmaras digitais e disse que depois de ter descoberto as câmaras digitais em Inland Empire, ficará doente se tiver que voltar a rodar outro filme em celulóide.
A maioria dos profissionais de cinema que ali estavam, queriam focalizar nas perguntas sobre cinema e ele fez questão de lembrar o tema da masterclass, dizendo que “o cinema não é só uma coisa intelectual, mas é também uma coisa da intuição e a meditação transcendental é a porta que se abre e nos leva ao mais profundo estado de nossa consciência”.

sábado, 10 de novembro de 2007

Pedro Almodóvar no European Film Festival

Ontem, fui assistir a palestra de Pedro Almodovar, no auditório do Casino do Estoril, no European Film Festival.
Foi um encontro com um autêntico showman, com humor, presença marcante e espontaneidade, falando em espanhol, sem tradução, Almodovar conduziu a plateia portuguesa, jovem na sua maioria, deixando todos muito a vontade para fazer perguntas com intimidade e descontração.
Pedro Almodovar, que veio ao Estoril acompanhar a retrospectiva do seu trabalho e receber um premio especial do European Film Festival, aproveitou a sua estadia em Portugal para também ter esse encontro com seu público.
Como ele estava muito solto, as perguntas vieram de todo o lado, ele disse que não falaria de seu novo filme que será rodado em Janeiro, devido aos problemas de direitos autorais, disse ter enfrentado problemas com o nome do filme “Volver”, pois alguém depois dele ter contado sobre o filme, registrou o nome e lhe causou problemas.
Pediram para que ele falasse sobre seus filmes e Almodovar disse:«É muito difícil falar de cada um dos meus filmes. Cada um é uma etapa da minha vida. Não tenho um favorito mas assumo toda a minha trajetória».




(Na foto ao fundo, Paulo Branco, o director artístico e produtor do festival)
Uma senhora, que se apresentou como Venezuelana, fez a pergunta que creio ser a mais comum: Porque você tem tanto fascínio pelo Universo Feminino?
Ele falou que isso não era tão consciente, era espontâneo, ele começava a escrever e então surgiam naturalmente muitas mulheres. Explicou que na sua infância, morou em uma aldeia, no interior da Espanha, onde “os homens trabalhavam o dia todo e só voltavam para a casa à noite”, e que “as mulheres achavam que pelo fato dele nessa altura ter quatro, ou cinco anos era cego surdo” e então, ficavam muito à vontade com ele ao lado, “vendo-as coser, ouvindo-as cantar e contar as tragédias que ocorriam na aldeia”, e desde então, que a mulher era para ele : “a máxima representação da vida”.


Teve um momento muito especial em que ele disse brincando para um entrevistador que não fizesse nenhuma pergunta de política internacional e então o rapaz respondeu que era justamente o que ele queria perguntar, já que o ministro francês Dominique de Villepin (de direita) estava na sala, e fotografei…
Muitas risadas, passaram o microfone para o ministro, e o Almodovar quis saber se era verdade que Villepin tinha gostado do filme Volver, pois ele havia ouvido falar. O político francês confirmou e disse que apreciava a obra do Almodovar.
Almodovar: Há políticos, como o presidente da Câmara de Madrid, que por vezes, me dizem que gostam muito de meus filmes e logo a seguir me pedem um favor” Risadas e o clima foi ficando mais descontraido ainda e alguém perguntou onde é que ele ia buscar inspiração, e como surgiam as idéias para os filmes.
Ele disse que era do cotidiano, podia surgir a qualquer momento e contou que um dia passando na rua viu um anúncio que dizia: “Dona Sangre”(doa sangue). Ele imediatamente pensou, existe um grupo de vampiros por detrás disso e começou a desenvolver a ideia, o público gargalhava com a entrega dele, enquanto descrevia e interpretava o presumível filme, pudemos ver sua natureza criativa.
Houve declarações: “Gracias por existir” e “Para mim, há dois espanhóis que compreendem muito bem as mulheres: Garcia Lorca e você”
E a última pergunta foi qual o tipo de música que ouvia enquanto criava, ele falou de música eletrónica em que ele não precisava prestar atenção e ao mesmo tempo o embalava no processo e que gostava muito de ouvir as músicas do Caetano Veloso e sua irmã, e claro, fiquei contente de ver a referência ao Brasil.
Viva Arte!
Arte Viva!

domingo, 4 de novembro de 2007

Joseph Beuys

Berlim é uma cidade de arte e cultura, para os seguidores de todas as artes. A cidade mantém um fluxo permanente, nunca cessa de causar surpresas, dando-nos inspiração para o nosso desenvolvimento e criatividade.
Foi visitando o Museu Hamburger Bahnhof, que pude ver, na coleção permanente, a obra de Joseph Beuys.

Joseph Beuys (1921–1986) é considerado um dos mais influentes artistas europeus da segunda metade do século XX, e o artista plástico alemão mais importante depois da Segunda Guerra Mundial. Com uma personalidade controvertida e um modo muito peculiar de encarar o mundo, foi o inventor do “conceito ampliado da arte”: “Toda pessoa é um artista”, é a sua frase mais famosa.

"Libertar as pessoas é o objetivo da arte, portanto a arte para mim é a ciência da liberdade."


Beuys, foi um questionador por excelência que mostrou com sua obra que está longe o tempo em que teremos uma definição de arte que elimine as controvérsias. Partindo das oposições razão-intuição, frio-calor, ele trabalhou para o restabelecimento da unidade entre cultura, civilização e vida natural, revolucionando as idéias tradicionais sobre a escultura e apontando novos caminhos para a arte em sua constante mutação.
Conta a história que Joseph Beuys foi piloto da Força aérea nazista durante a Segunda Guerra Mundial, e quando seu avião foi abatido sobre a Criméria, ele foi socorrido por nativos que envolveram seu corpo em gordura animal e feltro, materiais que se tornaram constantes em sua obra.
Ele atribuía um grande simbolismo à função física de cada material que selecionava para suas obras. que integram a polaridade metabolismo e neuro-sensorial na filosofia de Steiner.


Joseph Beuys frequentou os grupos de antropósofos em Dusseldorf, articulou a ideia da "unidade na multiplicidade", dos quatro níveis do homem: corpo físico, corpo etérico, corpo astral e o "Eu". A influência da antroposofia de Steiner fica estabelecida na relação que ele trava com a natureza.
O instinto animal, para Beuys era uma forma de inteligência superior, o artista inspirava-se na observação de lebres, pássaros, cavalos, e os demais animais que podia observar e retratava-os em performances, onde questionava que o animal morto pode ser uma obra de arte, no instante em que alguém decide que assim o é.

"Tornai os segredos produtivos."
Confesssares