quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Centre Pompidou Novos Media 1965-2003- no Museu do Chiado

É sempre bom ir ao Museu do Chiado em Lisboa, melhor agora com a exposição do Centre Pompidou Novos Media , onde os artistas com o uso do vídeo, exploram possibilidades estéticas como instrumento crítico das imagens.
Encontrei vários bonecos de Tony Oursler na exposição, que suspensos em tetos, vãos de escadas, e espaços mortos do circuito, compõem com as luzes monitores e projeções a idéia do inusitado.

Estes trabalhos, vindos do Centre Pompidou de Paris, que tem como proposta serem interativos, são um estimulo a criatividade. Uma viagem no tempo, ao começo da descoberta do vídeo como material mais barato e acessível que o filme e suas possibilidades no campo da experimentação.

A primeira instalação que entrei foi: Present Continuous Past, de Dan Graham. Além de lidar com minha imagem gravada, me via também refletida nos espelhos e no reflexo do monitor a emitir o que já havia sido registrado. Uma forte sensação de alteração dos conceitos espaciais e temporais através das imagens.

Na secção da expo- sição: "Para uma Televisão imagi- nária”, quero citar: Moon is the Oldest TV- de 1965, por ser o trabalho mais antigo e pelo romantismo da idéia, Nam aplicou as interferências magnéticas nos tubos catódicos monitores,interrompendo os sinais para criar na tela da TV, silhouetas que representam as fases da lua.

Gostei das críticas aos conteúdos televisivos de Chris Marker ou Matthieu Laurette; da "televisão ao contrário" de Bill Viola e Valie Export; das relações com as artes visuais exploradas por Vito Acconci.
Gostei ainda, das pesquisas espaciais de Martial Raysse, Bruce Nauman e Global Groove, de Nam June Paik, e de Chris Marker, Immemory, lidando com a memória das imagens.

Quero salientar o trabalho de Pierre Huyghe, que em 1999 produziu The Third Memory, obra em três partes que recupera os recortes de imprensa sobre um assalto a um banco (em 1972), a história inspirou o filme: Um Dia de Cão, com Al Pacino e a memória do assaltante duas décadas depois. E não posso esquecer dos trabalhos que associamos de imediato ao cinema (Jean Luc-Godard e Chris Marker).



Meu lado musical fez eu ter um carinho especial com: Hors Champs, de Stan Douglas , quarteto em concerto de free-jazz com a composição de Albert Ayler- Spirits Rejoice, com a direção integral da rodagem do concerto por Stan Douglas.


Cada vez que revejo, o Arena Quad I and II, de Samuel Beckett, gosto mais. Quatro figuras sem identidade,diferenciados apenas pela cor das suas roupas, encenam uma geometria de cruzamentos de posições sobre um quadrado. Seguem uma regra de circulação, onde a obra instaura um ritmo alucinatório de espectativa que se esgota em cada passo, sendo regido pelas batidas sonoras dos pés. A estrutura, possui dois andamentos: um rápido e a cores, outro lento e a preto e branco, ambos impondo um sentido do absurdo, tornando a ação uma redundância em si mesma. A cadência de todos os movimentos e a imposição a um esquema tão marcado pela quadratura, esgotam a ação e o papel das figuras, provocando uma abstração espacial cognitiva e sensorial.


Em Feature Film,de Douglas Fordon,o artista toma como ponto de partida a banda sonora do filme vertigo, de Alfredo Hitchcock, composta por Bernard Herrmann. “Não como uma apropriação, como é frequentemente em muito dos seus trabalhos, mas na realização de um filme sobre a condução dessa mesma banda sonora pelo maestro James Conlon com a orquestra da Ópera Nacional de Paris.
A obra consiste num longo bailado do rosto e das mãos do maestro, na condução da banda sonora original, ao longo de 128 minutos, enquanto que num canto da mesma sala é exibido num monitor TV a versão integral do filme Vertigo.”
Fiquei absorta com os close-ups conjugados com a densidade dramática da música e da imagem.

Senti vontade de ter mais experiên- cias em vídeo, de ser mais espontânea no trabalho, de ser mais inovadora em tudo, de ser mais participativa no mundo das artes e de convidar todos os amigos a cultivar a liberdade na criação.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Museu Brecht-Weigel-Gedenkstatte


Há lugares com histórias tão pessoais, que nos ajudam a escrever as nossas...
Na rua chausseestrabe 125, viveu os três últimos anos de sua vida, Bertolt Brecht, um dos maiores dramaturgos, século 20, com a sua mulher, a atriz Helene Weigel.
Berlim que é uma cidade por onde já passaram inúmeros artistas e intelectuais, não teve nenhum outro escritor moderno que tenha deixado marcas tão nítidas na cidade como o dramaturgo Bertolt Brecht.
No Museu Brecht-Weigel-Gedenkstatte, vemos Brecht na intimidade. Vemos na sala, a mesa com sua máquina, na qual ele escreveu muitas das suas peças e grande parte de sua poesia. Vemos a vasta biblioteca de livros de Brecht em vários idiomas.Vemos pela janela o cemitério onde ele e, mais tarde, sua esposa foram enterrados.


Brecht é um dos dramaturgos mais encenados do mundo e a Ópera dos Três Vinténs, uma das peças mais famosas do planeta. Ele é o único dramaturgo alemão encenado em todo o mundo, e nisso está bem à frente de Goethe. Neste aspecto, Brecht só pode ser comparável a Shakespeare, Molière, Eurípedes e Goldoni. Ele iniciou seu trabalho como diretor de teatro, na parte de Berlim sob ocupação soviética, formando o trabalho e filosofia que o Berliner Ensemble mantém até hoje.

No meio teatral Bertolt Brecht é sempre citado como um importante teórico teatral e seus conceitos são amplamente discutidos, mas temos todos dificuldade em entender amplamento o que venha a ser, o distanciamento, o verfremdungseffekt, o efeito do afastamento.
Sua concepção cénica é baseada na necessidade de estabelecer uma distância entre o espectador e os personagens, para que o ponto de vista crítico do autor provoque no espectador uma tomada de consciência.



Brecht Brecht, teve suas obras lançadas ao fogo,
durante a queima de livros organizada pelos nazistas na atual Bebelplatz, em 1933, um dia após o incêndio do Reichstag. Foi um ano com muitos acontecimentos marcantes na vida de Brecht, no início do ano, sua peça A Medida, foi interrompida por policiais. Nesse mesmo ano, percebendo que começaria a caça aos opositores do regime que se instalara no poder com a ascensão de Hitler a chanceler do Reich, Brecht partiu para o exílio dinamarquês com seus filhos e sua terceira mulher, a atriz vienense Helene Weigel, e só retornou à Alemanha em 1948.
No exílio escreveu várias peças inspiradas em sua luta contra o nazismo, e no seu regresso fundou o grupo teatral ´Berlin Ensemble´, onde encenou muitas de suas peças politicamente provocativas.

O teatro da diversão, o teatro trash, o teatro de agressão, tudo isso já passou e Brecht continua sendo vanguarda. Suas peças e sua maneira de ver o teatro, ampara as pessoas que estão em busca de sentido num mundo frio e pragmático.

“O amor é a arte de criar algo com a ajuda da capacidade do outro.”