terça-feira, 1 de julho de 2008

"Aleksandra" de Aleksandr Sokurov

Sokurov usa o tempo, o momento presente aparentemente interminável, para mostrar o conflito na Chechénia e refletir sobre a totalidade da experiência da guerra. Não há nada no filme que seja superficial, esse tempo do cotidiano, só revela a perda básica da humanidade. Os aspectos emocionais não são ofuscados pelo intelectual, e esse equilíbrio faz toda a diferença.

A belíssima fotografia capricha para mostrar o ambiente letárgico, o calor, os corpos que dormem pouco,comem mal e são maltratados pelo cotidiano da Guerra.

O primeiro movimento, para definir o ritmo de Alexandra(Galina Vishnevskaya), mostra como ela chega ao trem blindado e interroga sobre a unidade militar de seu neto Denis (Vasily Shevtsov). É paradoxal as imagens dela entrando dentro do universo da Guerra, potencialmente perigoso… Ela a idosa e experiente entre os jovens fortes e imaturos.


A simples presença física da avó, no meio a guerra confere tensão, mostra a guerra como trabalho inútil, desgastante, onde os soldados sequer defendem a pátria.
Entendemos a guerra pelas pessoas que a fazem, pelo lado das relações humanas, pois ela nunca ocorre em frente às câmeras.
A maior parte da narrativa se passa com as caminhadas de Alexandra pelos campos, em meio aos soldados, um acentuado simbolismo da Mãe Rússia e seus filhos.

Um capitão altamente respeitado, propõe o segundo movimento, aprovando sua caminhada para o mercado da aldeia vizinha, onde ela entra em contato com os habitantes locais chechenos, e é muito bem tratada. Fica estampada a solidariedade e o carinho das mulheres que acolhem a Russa que vai comprar cigarros e bolachas para os soldados.



No terceiro movimento, Alexandra está cheia de perguntas, e significativamente, ela insiste em que essas questões são importantes para o País. Ela retorna à base indagando ao seu neto Denis sobre o seu lugar na guerra, o lugar da guerra em todo o mundo, o seu futuro, seu bem-estar…
Calmamente, com as simples questões feitas pela avó, chegamos a perceber a razão para tantas perguntas, como: "Onde você lavar?" ou "O que você lê?" porque desemboca no que é preeminente, como a forma de carregar uma arma: "Oh - é assim tão fácil?" no mesmo tom ela continua: "Você já matou? Quantos? E os temas são abordados no local, onde não há espaço para os sentimentos.


Com um cinema poético, Sukorov nos leva a ver no papel de uma velha avó que vai visitar seu neto servindo o exercito na Chechénia, toda a complexidade da Guerra e da política atual da Rússia, em um mundo de especificidade e universalidade.

5 comentários:

Carla Freire disse...

O filme deve ser belo...retrata uma das coisas que mais me custa aceitar....a guerra entre os homens!
Por muita explicação que tentem me dar..nunca irei entender!
Sou pela PAZ
Beijares e Abraçares

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Olá Vera, que bela descrição da obra de Sokurov. Gostei
Beijinhos
Andrea

Sandra Gorni disse...

Vera, deu muita vontade de assistir ao filme...
Sempre é uma gostosura passar por aqui.
O Serenade é uma pérola...

Ares e Águas

RONNY ROCKET disse...

Sokurov mestre do cinema russo, continuador das tradições de Dovjenko, Eisenstein e Tarkóvski. Seu estilo, definido como "espiritual", é feito de composições visuais antinaturalistas e influenciadas pela pintura romântica, e por uma arquitetura sonora que mescla sons naturais a partituras clássicas.
Imperdível.