quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Teatro Nacional D. Maria II


Em Lisboa, moro na freguesia da Sé, centro histórico, que fica próximo a vários lugares que gosto de visitar.
Sempre que posso, subo a Rua Augusta e vou ao Teatro Nacional D. Maria II, visitar a biblioteca, ver as novidades da livraria e pegar o jornal do teatro, para ler sobre os espetáculos e eventos do momento.
Vou ao teatro D. Maria (como é chamado) assistir aos novos espetáculos que entram em cartaz, os que acho mais interessantes claro, já que temos sempre várias peças de teatro, se apresentando em simultâneo.


Assisti a muitos espetáculo de lugares privilegiados quando tinha em Lisboa, a agência de casting (Casting Design) pois os atores faziam questão de me deixar bem acomodada para apreciar os seus trabalhos e eu usufruia dessa condição com muito prazer.


Vivi muitas estórias no Teatro D. Maria, vou contar algumas… Quando estava fazendo o casting para a novela “Banqueira do Povo”, com a direçao do Walter Avancini, para a RTP 1 , eu queria muito que Eunice Munhoz (“primeira dama” do teatro Português) aceitasse a proposta de fazer o personagem principal da novela. Achei que para eu ser bem sucedida nessa empreitada deveria ir com o Walter, pois ele tinha um bom conceito em Portugal, por causa do sucesso da novela "Gabriela". Ele aceitou a idéia, e fomos juntos falar com ela. Eu que havia visto a Eunice Munhoz, no espetáculo “Mãe Coragem” do Brecht, e que tinha ficada impressionada com sua magnífica atuação,estava na maior torcida para que ela fizesse parte do elenco da novela.
A Eunice munhoz nos recebeu no Teatro D. Maria, em seu camarim, antes do início do espetáculo: “Passa por mim no Rossio”. Quando entramos ela parou a maquiagem, para conversar conosco, a princípio demonstrou que não tinha interesse em fazer novela, mas Avancini foi suficientemente sedutor e conseguimos com que ela aceitasse o convite, e para a felicidade geral, ela fez e muito bem, o personagem Dona Branca, na novela “A Banqueira do Povo".

Devo ainda dizer que graças ao Teatro Nacional D. Maria II, assisti fabulosas palestras, e apresentações inusitadas, tanto nos espaços convencionais quanto nos improvisados, que sempre me conduziram a uma busca incessante dos novos e possíveis caminhos para o teatro.




Fiz em 2006, patrocinado pelo D. Maria, um curso para atores profissionais, de muita qualidade: “O Corpo do Actor” com Gianluigi Tosto, que aproveitou a ocasião da sua estadia em Portugal para transmitir sua técnica.
O ator italiano, estava em temporada no D. Maria, dando voz e corpo aos três textos fundadores do género épico – “Ilíada”, “Eneida” e “Odisseia” - ele sem precisar recorrer a grandes artifícios, acompanhado apenas de meia-dúzia de instrumentos, fez dos três espetáculos rituais inesquecíveis.
No curso deu para perceber a profundidade de sua técnica, sua especial atenção ao treino do corpo e da voz do ator,bem como à interação entre o corpo e a mente. Trabalhamos com extrema sofisticação a voz e o seu controle, bem como a consciência de alguns elementos fundamentais no corpo humano, como a articulação dos membros, ou o alinhamento da coluna vertebral e sua flexibilidade.


Em 2007 foi a vez do brasileiro Aderbal Freire Filho, que trouxe para o Teatro Nacional D. Maria II, seu espetáculo: “O que diz Molero”, do português Dinis Machado, e realizou um curso, "Actor de Teatros” do qual fiz parte entre vários amigos atores.
No curso aprendemos realizar « uma encenação de um texto não teatral, integralmente transposto para o palco», em que tenta «descrever com gestos o que as suas palavras (do texto) vão narrando.» ainda nas palavras de Aderbal:«O “romance-em-cena” assenta assim na imaginação despertada no espectador e nos recursos cénicos que estão ao dispor do ator, fazendo-o, simultaneamente, dizer e mostrar. Acaba por ser a convivência de uma capacidade narrativa e dramática que faz do ator um profissional mais completo. »
Na conclusão da oficina, "Actor de Teatros” fizemos as apresentações na sala experimental do Teatro Nacional D. Maria II, com a presença na platéia de Marieta Severo que muito nos prestigiou e de vários e renomados atores Portugueses.Todos nós, atores envolvidos no projeto, queríamos a continuidade no estudo e nas possíveis montagens.
Durante os ensaios o clima foi sempre de contentamento e satisfação e por isso ficaram as saudades do convívio entre colegas, do trabalho e do tempo passado com o Aderbal. Ficamos todos amigos, trocamos e-mails, e por vezes, promovemos tertúlias em Lisboa para comemorar: Amor, Alegria, Agradecimento e Arte!
Beijares confessares e alegrares

4 comentários:

Luiza Albuquerques disse...

Quantas experiências ricas este teatro Nacional D. Maria II te proporcionou, Vera! Belos momentos com pessoas especiais. Fico feliz em poder visualizar este período de sua vida! beijos e abraços

Unknown disse...

Vera, somos quase vizinhas :) eu moro na praça da Alegria, mesmo ao pé da Avenida da Liberdade. Quando tenho tempo, adoro passear por esta zona e o Dona Maria é sem dúvida um desses momentos de contemplação, pois o meu marido também já lá esteve em cena com um espectáculo do Peter Schaeffer encenado pelo Carlos Avilez :)Que ricas experiências tivestes e que coisa boa poder ter assistido a tantos espectaculos de tão bons lugares ehehehe. Beijinhos aqui da colega de blog :)

ericaneiva disse...

Querida Vera,

Vc sempre traz textos tão vivos e interessantes no seu blog. Estava c saudades desse seu cantinho. Só agora, depois da mudança, estou retomando as leituras novamente. É sempre muito bom ouvi-la falar de suas experiências artísticas. Viva a arte!!! Bjs, querida. Luz e Paz! Érica.

Walmir disse...

Querida Vera, gosto de ler estas histórias de experiências e aprendizados. O que temos, todos nós, são bons conselhos dos mestres. Se lemos o Stanislavski, o Meyerhold, o Brecht, o Grotowski e tantos outros, vemos claro que são histórias muito pessoais que nos ajudam a escrever as nossas.
E, claro, há lugares sagrados.
Paz e bem