No Turismo Infinito em companhia dos hetrónimos, das cartas de amor de Ofélia Queirós, do universo inteiro, viajamos em uma aventura, onde transmutamos nossas emoções, expandimos nosso mundo e ampliamos nosso espaço de reflexão, junto à obra do Fernando Pessoa como todo."O coração, se pudesse pensar, pararia."
Agora em Lisboa, no Teatro Nacional D. Maria II, Turismo Infinito, peça com dramaturgia de António M. Feijó - obra de Pessoa, dos seus heterónimos e das cartas de amor de Ofélia Queirós.
Ricardo Pais, diretor da peça, propõe uma viagem ao universo da vida e obra de Pessoa, com um espetáculo brilhante em suas diversas sínteses, simples, austero, estilizado, e contido.
O ponto de partida de António M. Feijó, o autor da peça, para a criação do espetáculo, foi a existência de “vários textos, inéditos durante muito tempo, nos quais Pessoa põe os heterônimos a falar entre si”.
"Fui educado pela Imaginação, / Viajei pela mão dela sempre, / Amei, odiei, falei, pensei sempre por isso. / E todos os dias têm essa janela por diante, / E todas as horas parecem minhas dessa maneira".
A impactante cenografia concebida por Manuel Aires Mateus, porto infinito onde chegam ou de onde partem o guarda-livros Bernardo Soares, o futurista Álvaro de Campos, o interseccionista Fernando Pessoa e o mestre Alberto Caeiro, exerce uma influência fundamental no efeito que os textos escolhidos adquirem na direção.Em sintonia perfeita, com a direção nesta viagem pessoana, Manuel Aires redesenhou o palco, criando uma visão espacial com sua perspectiva e profundidade, fundamental na estética de Ricardo Pais.
Nesse ecrã negro, vão passando figuras, imagens, personagens criadas por um grupo de atores de alto nível, numa articulação medida e quase neutra.
Com equilíbrio tímbrico alternam-se as vozes e as palavras dos atores, ingrediente fundamental para unidade do espectáculo.
Sublinho João Reis no todo de seu trabalho e o virtuosismo de Emília Sylvestre, no Monólogo da Corcundinha.
“Sou a cena viva onde passam vários actores representando várias peças.”
O trabalho de luz nesse infinito, nesse negro de cujo contorno se perde a noção, mostra-nos corpos fragmentados desvendando o interior dos personagens.Como o espaço cénico é praticamente despido de objectos, opta-se pelas sombras chinesas, jogando com os cículos da cenografia.
A sonoplastia de Francisco Leal cria ambientes sonoros, em apurada elaboração e atmosfera que complementa o trabalho.
Ricardo Pais, em uma obra literária tão complexa e profunda, como a de Fernando Pessoa, consegue a partir dos fragmentos chegar à totalidade, ao Infinito, proporcionando um turismo dentro de nós mesmos, com as mais preciosas e eternas palavras da literatura.



