sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Meredith Monk e o Vocal Ensemble

"I work in between the cracks, where the voice starts dancing, where the body starts singing, where theater becomes cinema."

A semana passada foi dedicada a Meredith Monk, com espetáculo, palestra e o workshop: “Voz dançante, corpo cantante”, com Meredith e membros de seu Vocal Ensemble.
Sempre que ouvia a Meredith Monk cantar, pensava como seria bom, trabalhar, conversar, conviver com ela, mas parecia tão distante essa hipótese… Você pode imaginar como gostei de viver essa experiência.
Foi muito gratificante o encontro com Meredith Monk, Theo Bleckmann, Ellen Fisher, Katie Geissinger e Ching Gonzalez, pelos preciosos momentos em que eles compartilharam generosamente suas técnicas artísticas.

A energia contagiante do Vocal Ensemble nos estimulou, e como resposta a seus diferentes exercícios, eles tiveram a completa entrega do grupo com cerca de trinta profissionais da area de música, teatro, e dança.
Descobri no convívio com o Vocal Ensemble, que a procura deles pelo mistério e mágia vem da disciplina e humildade. Foi intenso, profundo e envolvente o encontro com a chamada: “técnica vocal extendida” e “performance interdisciplinar” da Meredith Monk.
Aprendi que a voz não é apenas um lugar de palavras e notas: é um lugar em expansão onde todas as regras podem ser eliminadas e tudo pode começar de novo.

A técnica do Vocal Ensemble criou uma abertura para descobrir e entrelaçar novos modos de percepção. A voz humana foi o foco de todas as nossas criações, com a orientação dos integrantes do Vocal Ensemble. Dançamos com a voz, e descobrimos como esse instrumento que tem cor, género e paisagem, não precisa de palavras.
Na palestra da Meredith: “A Arte como Prática Espiritual”, ela falou com muita intimidade, já que na plateia conviviam as pessoas que estavam no workshop e a equipe do Dharma/Arte Produções.

Meredith começou por enfatizar que a música é o coração, o centro a força do seu trabalho, que abrange o espaço entre várias artes .A música sempre fez parte de sua vida, com músicos na família desde o bisavô, nasceu por acaso em Lima, capital do Peru, porque sua mãe, cantora, andava em tourné.
Falou do seu espetáculo,"Impermanência": “O que espero é que alguém seja transportado durante uma atuação. Que de alguma forma seja transformado. Cada pessoa é diferente, uma audiência é só um grupo de indivíduos, mas no mundo em que vivemos a atuação ao vivo é uma das poucas situações onde estamos todos no mesmo tempo e no mesmo espaço, e isso é muito preciso.”
Contou que aprendeu música através do corpo, começou com um treinamento da visão, juntando as imagens.Como seus interesses eram: teatro, música, movimento, um dia ela teve intuição de juntar tudo: voz, imagem e movimento. Começou fazendo performance em galerias e assim fez a síntese para seu trabalho de fusão.

“Sempre pensei que fazer arte é como caminhar até a beira de um despenhadeiro, corer o risco e saltar. No começo de uma nova obra ou de um dia de trabalho está o desconhecido. Ser artista é questionar, vagando pela escuridão apenas pressentindo o que se manifestará, é não ter certeza, é tolerar o medo. Quando a curiosidade e o interesse se tornam mais presentes que o desconforto, conseguimos apreciar o mistério, e a exploração se torna vivida e vibrante, Então de fato ultrapassamos o medo, e há sentido de descoberta”

Para concluir essa viagem, no sábado fui assistir ao espetáculo, “Impermanência”: uma celebração da vida e reflexão sobre a morte. Surpreendente do começo ao fim, Monk começa a cantar sozinha à capela, e depois entra seu iluminado conjunto de cantores-dançarinos e músicos. impermanência é uma evocação da passagem do tempo, expressa pela música e pela dança. Um universo em permanente mutação, que se aplica à linguagem multidisciplinar do espetáculo, fazendo da síntese poética uma jornada espiritual.

3 comentários:

Walmir disse...

Vou seguindo daqui sua trajetoria artistica, mana blogueira. Suas experiencias compartilhadas e, de certa forma me encontrando com vc, pois temos olhares - eu acho - bem semelhantes.
Paz e bom humor sempre, menina de "ares".

Carla Freire disse...

Deve ter sido uma experiência maravilhosa,Vera... encantador o facto de ela falar que a música sempre fez parte da vida dela,eu também sinto isso e acho impossível viver sem ela...a música,a dança..a arte!
Beijares e Abraçares

RONNY ROCKET disse...

Me encanto com o teu olhar tão atento e contemporâneo.