
Ontem, fui assistir a palestra de Pedro Almodovar, no auditório do Casino do Estoril, no European Film Festival.
Foi um encontro com um autêntico showman, com humor, presença marcante e espontaneidade, falando em espanhol, sem tradução, Almodovar conduziu a plateia portuguesa, jovem na sua maioria, deixando todos muito a vontade para fazer perguntas com intimidade e descontração.
Pedro Almodovar, que veio ao Estoril acompanhar a retrospectiva do seu trabalho e receber um premio especial do European Film Festival, aproveitou a sua estadia em Portugal para também ter esse encontro com seu público.
Como ele estava muito solto, as perguntas vieram de todo o lado, ele disse que não falaria de seu novo filme que será rodado em Janeiro, devido aos problemas de direitos autorais, disse ter enfrentado problemas com o nome do filme “Volver”, pois alguém depois dele ter contado sobre o filme, registrou o nome e lhe causou problemas.
Pediram para que ele falasse sobre seus filmes e Almodovar disse:«É muito difícil falar de cada um dos meus filmes. Cada um é uma etapa da minha vida. Não tenho um favorito mas assumo toda a minha trajetória».
(Na foto ao fundo, Paulo Branco, o director artístico e produtor do festival)

Uma senhora, que se apresentou como Venezuelana, fez a pergunta que creio ser a mais comum: Porque você tem tanto fascínio pelo Universo Feminino?
Ele falou que isso não era tão consciente, era espontâneo, ele começava a escrever e então surgiam naturalmente muitas mulheres. Explicou que na sua infância, morou em uma aldeia, no interior da Espanha, onde “os homens trabalhavam o dia todo e só voltavam para a casa à noite”, e que “as mulheres achavam que pelo fato dele nessa altura ter quatro, ou cinco anos era cego surdo” e então, ficavam muito à vontade com ele ao lado, “vendo-as coser, ouvindo-as cantar e contar as tragédias que ocorriam na aldeia”, e desde então, que a mulher era para ele : “a máxima representação da vida”.

Teve um momento muito especial em que ele disse brincando para um entrevistador que não fizesse nenhuma pergunta de política internacional e então o rapaz respondeu que era justamente o que ele queria perguntar, já que o ministro francês Dominique de Villepin (de direita) estava na sala, e fotografei…
Muitas risadas, passaram o microfone para o ministro, e o Almodovar quis saber se era verdade que Villepin tinha gostado do filme Volver, pois ele havia ouvido falar. O político francês confirmou e disse que apreciava a obra do Almodovar.
Almodovar: Há políticos, como o presidente da Câmara de Madrid, que por vezes, me dizem que gostam muito de meus filmes e logo a seguir me pedem um favor” Risadas e o clima foi ficando mais descontraido ainda e alguém perguntou onde é que ele ia buscar inspiração, e como surgiam as idéias para os filmes.
Ele disse que era do cotidiano, podia surgir a qualquer momento e contou que um dia passando na rua viu um anúncio que dizia: “Dona Sangre”(doa sangue). Ele imediatamente pensou, existe um grupo de vampiros por detrás disso e começou a desenvolver a ideia, o público gargalhava com a entrega dele, enquanto descrevia e interpretava o presumível filme, pudemos ver sua natureza criativa.
Houve declarações: “Gracias por existir” e “Para mim, há dois espanhóis que compreendem muito bem as mulheres: Garcia Lorca e você”
E a última pergunta foi qual o tipo de música que ouvia enquanto criava, ele falou de música eletrónica em que ele não precisava prestar atenção e ao mesmo tempo o embalava no processo e que gostava muito de ouvir as músicas do Caetano Veloso e sua irmã, e claro, fiquei contente de ver a referência ao Brasil.
Viva Arte!
Arte Viva!